Maccabeo parte IV - Longo caminho

. segunda-feira, 28 de abril de 2008

Commoditas omnis fert sua incommoda.
(Em toda parte existe o mau caminho)


A lista possuía muitos nomes, a maioria dos nomes ali citados estava sob ordem de investigação, alguns por bruxaria, outros por falta de apoio a Santa Igreja, alguns por libertinagem, blasfêmias...

Mas um dos nomes que ali constavam seria investigado por prática ilegal de “Xamanismo” e leitura ilegal de livros pagãos, seu nome era Alfons Martim, e residia na região de Valencia.

- Ele pode fazer bom proveito dos meus livros! – exclama Cândido, e o mesmo segue viagem, a quantidade de mantimentos que lhe restara é o suficiente para mais ou menos cinco dias de viagem, tempo mais que o suficiente para se distanciar do Bispo Bartolomeu e seus homens.

Em sua saída de Veneza, Cândido nota com evidencia a situação lastimável que a cidade e sua população se encontram, ali há muitas casas abandonadas, o cheiro de podridão é sentido em toda região, em qualquer ponto da cidade é possível se ouvir lamentos desesperados, os estabelecimentos de libertinagem se encontram lotados, pessoas doentes e maltrapilhas encontram-se a andar sem rumo pelas vielas sujas, até mesmo as fontes e mercados, que sempre trouxe muito orgulham Veneza, se encontram sujos e abandonados, a região do cais, assim como as travessas feitas de gôndolas já não são mais feitas, pois se teme a água, assim como os corpos que ali são despejados.

Mas com muito pesar Cândido abandona a cidade, depois de se afastar consideravelmente da cidade, Cândido retira a máscara do Fato, Aquilo o incomodava deveras, parecia que o mataria sufocado, a viagem se inicia tranqüila, pela manhã Cândido para a um lago, lava suas vestes e se banha, pois há dias que não faz o mesmo, depois de se alimentar volta a seu carroção, toma um de seus livros e volta ao seu caminho, antes que o sol daquele dia tivesse desaparecido por completo, Cândido avista um cavalo vindo, e pelo porte do animal e de seu cavaleiro, são pessoas comuns, ao se aproximar Cândido reconhece Benito, um fazendeiro vizinho.

- Que Deus lhe abençoe! – exclama Cândido – Como está meu amigo?

Benito para seu cavalo, olha bem para Cândido e seu carroção e diz:

- Maldição homem! Nós da vila achávamos que tinha morrido, ou fugido com uma rapariga qualquer, faz mais de semanas que partira de casa...

- Estava em viagens meu amigo, mais quais são as novidades? – pergunta Cândido animadamente.

- Bem Maccabeo, quando estava fora o exercito do ofício fora a sua casa, pois seu primogênito já está na fase se ir para a armada, como você não estava lá...

- MALDIÇÃO! AQUELES VERMES LEVARAM O CAIO? –Exclama Cândido extremamente consternado, sem notar a blasfêmia que acaba de dizer.

- Cuidado com a boca homem, se um deles ouve você falar isso, irá queimar na fogueira.

Depois da fala de Benito, Cândido tenta se acalmar, formula uma desculpa tola para seguir viagem, após um “Adeus” um tanto desconfortável, Cândido prossegue, veste o Fato novamente, sua mente está sobrecarregada demais para ler.

Passam-se horas de viagem, dias, semanas, um mês, dois, durante esse tempo tudo o que Cândido pudera presenciar foram cenas de dor e martírio, vilarejos inteiros abandonados, cemitérios superlotados, fome, crime.

Mas o que realmente incomodava Cândido é o fato do dito “Santo Ofício” nunca cessar suas atividades, a igreja não oferecia o conforto nas palavras de Deus, oferecia festivais de crueldade e sadismo para um público moribundo que sempre se deleitava com as cenas de dor alheia, e quanto mais se aproximava do reino da Espanha, mais essas cenas se tornavam corriqueiras.

Perto de um vilarejo de nome Ashford, pois ali um senhor do mesmo nome era uma espécie de “governador”, aparentemente os camponeses dali viviam bem, Cândido passara por ali para comprar mais mantimentos. Mas quando passava por ali, notara uma grande movimentação de homens trajando vestes negras, aqueles eram inquisidores.

Cândido tenta mudar a rota, mais um dos Acólitos que ali se encontram vem à direção de Cândido, pega seu cavalo pelas rédeas, agradece a Deus por aquele “homem de Deus” ter chegado a salvo, Cândido pergunta sobre o que o Ofício faz ali, e o jovem responde:

- O senhor está de passagem não é mesmo? Bem esse senhor Ashford vive sem a benção de Deus, não arca com o dízimo, não obriga os camponeses irem à missa, nem a batizar seus filhos, está trazendo a influencia do demônio a este povo inocente.

Cândido olha ao seu redor, e tudo o que pode ver é fartura, pelo que parece, ninguém ali passa fome, também vê que estão a erguer uma pira, parece que o julgamento foi rápido.

- Mas o que posso ver aqui é fartura, esse homem não é bom para seu povo? – interroga Cândido.

- Utile quid nobis novit Deus omnibus horis*. – o jovem acólito diz apenas essas palavras.

Cândido abaixa seu rosto, ao ver que está de mãos atadas em relação ao destino daquele homem, à frente os homens da inquisição trazem um homem alto, vestido com um sabatino, de constituição saudável, tenho em volta de 40 anos, cabelos e cavanhaque grisalho, com um profundo semblante de pesar, o mesmo é amarrado à tora de madeira, algumas pessoas começam a se aproximar, a esposa do homem encontra-se aos prantos, ali se encontram alguns padres, fazendeiros locais e suas esposas, a eles são servidos refrescos, a população local se encontram divididos, alguns estão a falar mal e arremessar pedras, outros estão a lamentar, após alguns minutos, um dos padres joga uma tocha a madeira seca abaixo da pira, que começa a pegar fogo rapidamente, a senhora que estava aos prantos desmaia, enquanto os fazendeiros vão ao delírio, ao ver essa cena, Cândido arranca com sua carroça, quase derrubando o jovem acólito, aquilo era absurdo demais para a concepção de Cândido, que neste momento desejava a pior doença possível para o Papa Clemente.

Cândido com os olhos marejados de lagrimas segue viagem, dessa vez sem encontros desagradáveis, depois de mais alguns dias de viagem, acaba por entrar no território espanhol, e visivelmente nota o medo que suas vestes trazem a população, e isso era extremamente compreensível, pois boatos diziam que as fogueiras da Espanha queimam muito mais que qualquer outra, a cidade de Valencia se encontrava próxima, e isso era bom, pois o cansaço físico e psicológico quase o vencia, sua preocupação com os filhos era como uma flecha atravessada em seu pescoço, a casa momento se amaldiçoava por sua incompetência e imaturidade, como poderia abandonar seus filhos para buscar o improvável?

* Deus sabe o que faz.




Rodrigo, que está tentando sobreviver diante de uma torrente interminável de provas.

2 comentários:

Ana Paula disse...

oho... depois das provas, até q a estória ta fluindo bem
^^

Sarah C.M.A disse...

Mein Liebe...

A historia está fluindo bem...mas a cada prosseguir mais cruel e intragável é a situação da época...
Se fosse eu o meu psicológico estaria indescritivelmente frustado com a desgraça da morte ao meu redor e ao redor da população enquanto a Igreja é o representante de Deus, da justiça e da fartura injustamente!!!!

A história sinto q está chegando ao seu desfecho...tomara q ele vá até o fim com os seus objetivos provando a ele mesmo q naum faz parte dessa sujeira da época e não deixe morrer a esperança q flui dentro de seu peito!!!

Bom progresso amor...esperando ansiosa pela arte V!!!

Bjos meu talentoso escritor!!!!

 

^